Thursday, February 11, 2016

565.


albuquerque mendes
cansaço

Performance: sábado 13 Fevereiro 17h - CAAA Guimarães
Colaboração: Max Oliveira
Encerramento da exposição "Nunca fiz uma exposição de desenhos"

A MARGEM DO ERRO
Qualquer abordagem artística é geralmente solitária, mas a sua perceção requer distanciamento e partilha pública. O ofício é interrompido pela exposição da obra. É nesse distanciamento que a obra se torna vulnerável. Por isso grande parte do que é pensado e produzido pelos artistas não chega ao domínio público. A omissão tem assim uma função protetora; mas a ocupação e o investimento numa prática artística repetida que se mantém conscientemente fechada revela a sua alienação face ao sistema sociocultural em que se enquadra. Se a “Obra de Arte” tem por definição um lugar próprio (o museu), um valor económico que a caracteriza e uma expectativa a cumprir, esses não deixam de ser valores que lhe deveriam ser estranhos.

A quebra da expectativa do observador face à obra levou Honoré de Balzac a escrever a célebre narrativa “Le Chef-d’oeuvre inconnu” (1831), a história da pintura La Belle Noiseuse, em que o pintor Frenhofer trabalha durante mais de dez anos, para a destruir depois de se aperceber da deceção causada pela mesma aos seus discípulos, Poussin e Porbus. A história tem sido reinterpretada por várias figuras, atravessando mundos da ficção para estabelecer paralelismos com o real e mantendo-se como uma imagem da inquietação de qualquer artista. Albuquerque Mendes desenha em cadernos para evitar o julgamento crítico, a começar pelo seu próprio, que levaria à armadilha fatal da sua consecutiva destruição. Como forma de proteção, Albuquerque não os expõe e desta forma consegue igualmente mantê-los consigo.


Paula Pinto